Direito ao voto e movimento feminista: As Sufragistas e She's Beautiful When She's Angry.

Entender o movimento feminista e as conquistas que as mulheres conseguiram através dele é de suma importância principalmente para nós, mulheres, para nos enxergarmos melhor como indivíduos na sociedade, enxergar as conquistas de direitos que outras mulheres no passado lutaram tanto para conseguir e que esses direitos não são eternos, está sempre em jogo a retirada deles. Por isso é tão importante que essa luta continue e que nós não deixemos nunca que o retrocesso caia sobre nós e, claro, porque ainda há muita coisa que precisa ser mudada. Os dois filmes (um deles é um documentário) que trouxe como sugestão têm essa temática em comum e, melhor ainda: os dois estão disponíveis na Netflix!

Filme: As Sufragistas (2015):



Sinopse: No início do século XX, após décadas de manifestações pacíficas, as mulheres ainda não possuem o direito de voto no Reino Unido. Um grupo militante decide coordenar atos de insubordinação, quebrando vidraças e explodindo caixas de correio, para chamar a atenção dos políticos locais à causa. Maud Watts (Carey Mulligan), sem formação política, descobre o movimento e passa a cooperar com as novas feministas. Ela enfrenta grande pressão da polícia e dos familiares para voltar ao lar e se sujeitar à opressão masculina, mas decide que o combate pela igualdade de direitos merece alguns sacrifícios.

Se você procurar num dicionário o que significa sufragista verá que é quem defende a extensão de votos a todos, sem distinção de raça, sexo, poder econômico, origem etc., esse termo é utilizado para se referir às mulheres que lutaram e até se sacrificaram por esse direito. O filme retrata muito bem esse grupo de mulheres britânicas que reivindicavam seu direito ao voto, além de melhores condições de trabalho e salários justos. Esse grupo era formado por mulheres comuns, mães, trabalhadoras de fábricas, lavanderias etc., que além de ficarem expostas a todo tipo de perigos no trabalho, como queimaduras e envenenamento com gás (os homens eram os encarregados das entregas, pois as mulheres não podiam circular livremente pelas ruas e tampouco fazer esse trabalho, por isso eles respiravam ar puro, enquanto elas se intoxicavam dentro das fábricas), recebiam um salário muito inferior ao dos homens.
A protagonista, Maud, é uma dessas mulheres, ela trabalhou numa lavanderia desde sua infância, foi explorada e até abusada sexualmente (o que fica meio que implícito no filme, mas podemos muito bem notar isso em algumas cenas), mesmo diante disso ela acreditava que tudo estava bem, pois tinha um marido respeitoso, um filhinho, uma casa... Foi através de uma de suas colegas de trabalho, Violet, que ela acabou se envolvendo e conhecendo o sufrágio. A partir disso, Maud se entrega totalmente à causa e luta ao lado dessas mulheres. Vou deixar aqui uma das frases mais lindas e impactantes do filme, que foi proferida pela líder das sufragistas, Emmeline Pankhurst (a maravilhosa Meryl Streep):
"Durante cinquenta anos temos trabalhado de forma pacífica para garantir o voto para as mulheres. Temos sido ridicularizadas, maltratadas e ignoradas. Agora percebemos que ações e sacrifícios, devem ser a ordem do dia. Estamos lutando por um tempo em que cada menina nascida neste mundo terá uma oportunidade igual aos seus irmãos. Nunca subestime o poder que as mulheres têm de definir os nossos próprios destinos. Nós não queremos quebrar as leis, nós queremos fazê-las."
Fiquei até arrepiada nessa cena, e em várias outras ao longo do filme. Vale lembrar que ele é histórico, trata de algo que realmente aconteceu, de mulheres que realmente existiram e que sem elas nós não teríamos um dos direitos mais importantes para serem exercidos pelos/as cidadãos/ãs.


Documentário: She's Beautiful When She's Angry (2014):




Sinopse: Conta a história das mulheres que criaram o movimento feminista nos anos 1960, fazendo uma revolução em todos os âmbitos sociais.

Uma sinopse tão pequena, mas uma produção de magnitude incontestável. O título desse documentário já é uma provocação: "Ela fica linda quando está com raiva", frase esta que provavelmente já foi muito ouvida pela maioria das mulheres, proferida por algum homem com o intuito de nos irritar. A produção retrata a luta das mulheres que lideraram o movimento feminista entre 1966 e 1971 nos EUA, baseado em entrevistas concedidas pelas líderes do movimento, imagens e reportagens gravadas na época, e entrevista com essas mesmas mulheres no ano atual, com comentários e explicações dessas mulheres do contexto da época.
No doc nós podemos ver todos os temas que eram debatidos por elas e que estavam em pauta para serem mudados ou conquistados: igualdade econômica, política e social, como: oportunidades de emprego, salários dignos, legalização do aborto, reivindicações de creches (para que as mulheres tivessem um lugar seguro para deixar seus filhos enquanto trabalhavam) etc., os temas eram muitos, e boa parte deles ainda estão em voga até hoje, o que nos faz pensar muito sobre o porquê do feminismo ser tão necessário.
Alguns dos relatos que mais chamaram minha atenção ao longo do doc foram: as mulheres que tinham a mesma formação acadêmica e até superior a dos homens ganhavam menos; mulheres que depois de formadas e até com pós-graduação se dando conta de que elas não conheciam nada sobre a história da mulher (tanto nas artes, como em feitos históricos, sociais etc.), algo que acabou gerando um protesto onde aquelas mulheres queimavam seus diplomas, títulos de mestre, pois não valiam de nada sendo que tinham tão pouco conhecimento sobre si próprias; outro relato de uma estudante de graduação que no primeiro dia de aula, um de seus professores lhe disse a seguinte frase: "ou você me deixa foder você, ou eu fodo você", depois disso ela resolveu largar a faculdade e começou a participar do movimento; existe também o caso das mulheres negras, pois a causa feminista começou com mulheres brancas que buscavam seus direitos por trabalho, por exemplo, coisa que as negras já faziam há muito tempo: trabalhar na casa das brancas, inclusive cuidando de seus filhos enquanto elas trabalhavam.
Isso me fez refletir muito na questão do feminismo interseccional [clique aqui para ler sobre]. O feminismo negro tem outras pautas, bem diferentes do feminismo branco (você pode até estranhar essa dicotomia branco/negro, mas isso não é preconceituoso ou algo errado, e sim algo existente e que tem suas diferenças), pois no caso do feminismo branco, as mulheres estão em busca da sua liberdade sexual, de quebrar o estigma do "anjo do lar", de acabar com a pré-destinação de se casarem e terem filhos, mesmo não querendo etc. Já para as mulheres negras, essa sexualização já existe, e é inclusive muito forte, a mulher negra é (ainda mais) vista como um objeto, e na maioria dos casos ela dificilmente se casa, pois os homens as tratam como simples casos e escolhem as "belas, recatadas e do lar" para se casarem. Além desses exemplos, muitos outros foram retratados.
Esse documentário é tão incrível, que vou deixar este post de 9 motivos para assistir ao documentário She’s Beautiful When She’s Angry na Netflix [clique no título], para que tenham mais algumas informações adicionais.


Já fazia um bom tempo que queria assistir ao documentário, e descobri a existência do filme através de um post sobre filmes dirigidos por mulheres para assistir na Netflix. Espero que o pouco que falei sobre cada um deles tenha trazido algum interesse tanto em assisti-los, quanto em buscar entender a importância dos direitos que conquistamos com tanta luta.
Abraço e até breve. <3

Comentários

  1. Uma breve espiada nessa alma antiga! Espero poder assistir assim que for possível

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