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Mostrando postagens de fevereiro, 2016

Os Distraídos, Rubens Figueiredo.

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"Ainda que eu feche os olhos, mesmo que eu tape os ouvidos e comprima com força as mãos sobre as orelhas, percebo na pele, sinto nos ossos que o mundo trepida e bufa, agitado, à minha volta. Sempre me admira que tudo se esforce tanto em se mostrar, sempre me espanta que com tamanha sofreguidão todos queiram aparecer. Para mim, esconder-se é habilidade suprema e manter-se oculto constitui o talento mais precioso de todos. Mas nem sempre pensei assim, antes eu era como os outros. Entrava no elevador e as quatro pessoas que meus olhos viam eram as quatro pessoas que o elevador de fato carregava. A voz que meu ouvido escutava no telefone representava, para mim, a mesma voz que falava, bem longe dali. Minha mão espremia uma esponja encharcada e a água que escorria entre os dedos era – assim eu acreditava – a mesma água que ela, antes, havia absorvido. Mas a essa altura, em algum lugar, em algum vão mais sombrio, ele já me espreitava pelas costas. Sem que eu notasse, ele já vigiav