Resenha: Lolita, de Vladimir Nabokov.

Vladimir Nabokov (1899-1977), foi um romancista russo-estadunidense. Na juventude, a fuga da Rússia natal para a Inglaterra durante os distúrbios revolucionários de 1919 representou para Nabokov o início de uma vida nômade, que o levaria de Londres, onde estudou Literatura francesa e russa, até Berlim, França, Estados Unidos (pouco antes da invasão alemã à França) e, finalmente, à Suíça. Seus romances, escritos em inglês a partir de 1941, caracterizam-se por uma estrutura sensível e complexa, com pormenorizadas descrições das personagens.
Seu maior sucesso literário foi, sem dúvida, Lolita (1955). As editoras americanas negaram-se a publicar a obra, por esse motivo foi primeiro lançada na França. Polêmico e arrebatador, esse romance vem sendo apreciado e discutido tão intensamente como quando na época em que foi lançado, por se tratar de um tema extremamente polêmico: a pedofilia. Sim, Lolita se trata de um romance (gênero literário) narrado na perspectiva de um pedófilo e insano (como ele mesmo se classifica) Humbert Humbert, ou H. H. Antes de qualquer coisa, queria deixar bem claro que em hipótese alguma este livro se trata de uma história de amor, mas sim de abuso.
"Lolita, luz da minha vida, labareda em minha carne. Minha alma, minha lama. Lo-li-ta: a ponta da língua descendo em três saltos pelo céu da boca para tropeçar de leve, no terceiro, contra os dentes. Lo. Li. Ta.
Pela manhã era Lô, não mais que Lô, com seu metro e quarenta e sete de altura e calçando uma única meia soquete. Era Lola ao vestir os jeans desbotados. Era Dolly na escola. Era Dolores sobre a linha pontilhada. Mas em meus braços sempre foi Lolita.
Será que teve uma precursora? Sim, de fato teve. Na verdade, talvez jamais teria existido uma Lolita se, em certo verão, eu não houvesse amado uma menina primordial. Num principado à beira mar. Quando foi isso? Cerca de tantos anos antes de Lolita haver nascido quantos eu tinha naquele verão. Ninguém melhor que um assassino para exibir um estilo floreado.
Senhoras e senhores membros do júri, o item número um da acusação é aquilo que invejavam os serafins - os desinformados e simplórios serafins de nobres asas. Vejam este emaranhado de espinhos."
É assim que começa este livro que me trouxe tantas sensações e impressões diversas. Assim que terminei de ler Lolita tive a certeza que esse seria um dos meus livros favoritos da vida. E por quê? Por ter sido escrito tão magistralmente, nos apresenta esse personagem como um homem tão apaixonado que faz de alguns leitores cúmplices de um crime (a pedofilia) por se comoverem com os sentimentos do Humbert. Além é claro, do estilo de escrita do Nabokov. Tenho a impressão de que leria com o maior prazer tudo o que ele já escreveu. Seu estilo é rebuscado e complexo, mas sem parecer nem um pouco pedante.
O livro é narrado em primeira pessoa, ou seja, só vemos as coisas através da visão de Humbert, um homem atormentado e com problemas psiquiátricos. H. H. é um professor universitário de literatura da França. Aos 37 anos, a idade que ele tem na história que começa a nos contar, acabara de sair de um sanatório, por onde já passara algumas outras vezes. Ele sabe que tem distúrbios psicológicos e está sempre lembrando o leitor disso. Com a saída desse sanatório, ele resolve ir para os Estados Unidos descansar e passar um tempo focado nos seus trabalhos. Nos EUA, em Ramsdale, uma cidade bem pequena, ele conhece Charlotte Haze cuja casa iria lhe servir de hospedagem. E lá ele conhece Dolores (sua Lolita), filha de apenas 12 anos da sra. Haze, por quem H. H. fica perdidamente apaixonado assim que a vê ao sol, estendida no gramado.
Uma desculpa que algumas pessoas poderiam usar (não seja essa pessoa), é que mesmo a Lolita tendo apenas 12 anos, ela que seduziu o Humbert e não era nenhuma "santinha", mas aí é que entra a parte de que até a imagem que temos de Lolita nos é mostrada pelos olhos do Humbert. Sem contar que as descrições que ele próprio faz dela nos mostra o quão infantil Lolita era, em todas as suas ações, principalmente. Quem acredita que a Dolores é realmente como o H. H. nos mostra, na verdade, caiu como um patinho na lábia do Nabokov.
Estamos diante de um homem que vai contar a história de como ele se apaixonou por uma ninfeta de 12 anos - termo que ele usa para designar, pasmem, meninas de 9 até 14 anos. H. H. tem toda uma teoria sobre essas meninas que ele denomina ninfetas, e nos explica detalhadamente, essa foi uma das partes que mais me incomodaram na leitura, por ser completamente repulsiva. Ele nos conta também sobre sua primeira paixão juvenil, uma menina da idade de Lolita com quem teve um breve romance que acabou tragicamente. Esse é um fato que podemos considerar traumático na vida dele, e um dos motivos que explicam toda essa fixação que ele tem por meninas dessa idade.
Depois de ver Lolita pela primeira vez e se apaixonar perdidamente por ela, Humbert faz de tudo para terem no mínimo pequenos contatos, ao ponto de casar com sua mãe só para tê-la por perto. Depois de casados, H. H. imagina várias maneiras de se livrar de Charlotte, para ficar com a posse de Lolita (seu pai já havia morrido). Mas como ele mesmo diz, foi o destino que interviu nisso, pois ele não precisou sujar suas mãos com a morte da sra. Haze. Após encontrar escritos de Humbert que falavam sobre sua paixão por Dolores, Charlotte fica extremamente atordoada, e saindo para a rua acaba sendo morta por atropelamento. Enquanto esse fato acontece, Dolores estava em um acampamento, onde Humbert a busca e inveta que sua mãe estava doente, internada em uma clínica. A partir daí eles começam a viajar juntos pelo Estado.
Mais uma das razões para não acreditar em tudo o que Humbert fala: quando Lolita descobre que sua mãe estava morta, ela não parece se importar tanto. Mais à frente ele acaba se traindo, ao dizer que Lolita só continuou com ele porque realmente não tinha para onde ir, a não ser um abrigo.
Depois que Lolita descobre a morte de sua mãe, temos a segunda parte do livro, que vai mostrar todo o desenrolar e desfecho dessa história. Ao ler o livro temos que ter em mente que uma menina de apenas 12 anos nunca vai saber o que realmente quer da sua vida, o que Humbert Humbert fez foi acabar com a infância dela, em inúmeras partes vemos isso, até percebemos toda a tristeza de Lolita.
Não é à toa que esse livro é uma obra-prima da literatura do século XX, ele nos traz questões primordiais sobre a vida e também sobre a arte. Algo que eu sempre vou falar quando me referir a esse livro, é sobre a escrita do Nabokov, a perfeição de suas palavras.

Espero que tenham gostado da resenha, o objetivo foi fazer com que vocês se interessem por esse livro incrível e arrebatador. Gostaria de terminar essa resenha com uma frase muito importante: NUNCA, JAMAIS romantizem Lolita, porque em hipótese alguma trata-se de uma história de amor.
Um abraço. 

Comentários

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Uma história bastante perturbadora e instigante <3.
    Amei sua resenha. Esse livro agora está na minha lista oficial de leitura.

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  3. Fico muito feliz que tenha gostado. <3 Leia! Vale muito a pena.

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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